Com tomate, ovo e café caros, inflação sobe 0,56% em março

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,56% em março deste ano em comparação ao mês anterior, quando o índice saltou para 1,31%. Esta é a maior leitura para um mês de março desde 2023, quando índice subiu 0,71%.

No acumulado dos últimos 12 meses, houve um acréscimo de 5,48%, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (11).

A leitura veio em levemente acima com a mediana de projeções de economistas consultados pela Bloomberg, que indicava alta mensal de 0,53% e anual de 5,45%. Já de acordo com o boletim Focus, era esperada uma alta de 0,56% em março.

A alta de preços foi puxada pelo grupo alimentação e bebidas, que acelerou de 0,70% em fevereiro para 1,17% em março, respondendo por cerca de 45% do IPCA de março, o maior impacto no índice.

Contribuíram para esse resultado as altas do tomate (22,55%), do ovo de galinha (13,13%) e do café moído (8,14%). Em 12 meses, eles ficaram 0,13%, 19,52% e 77,78% mais caros, respectivamente.

Segundo o IBGE, apenas estes três itens juntos respondem por um quarto do IPCA de março.

A alta do café é a maior em 12 meses de todos os itens observados pelo IBGE. Em segundo lugar, está a tangerina, que ficou 52,71% mais cara no período.

No lado das quedas de março, destacam-se o óleo de soja (1,99%), o arroz (1,81%) e as carnes (1,60%).

A alimentação fora do domicílio (0,77%) também acelerou em relação ao mês de fevereiro (0,47%), com os refeição (0,86%) e cafezinho (3,48%) mostrando variações superiores às observadas no mês anterior (0,29% e 0,47%, respectivamente). Já o lanche (0,63%) desacelerou em relação a fevereiro (0,66%).

Em despesas pessoais (0,70%), grupo com a segunda maior variação no mês, o resultado foi influenciado por cinema, teatro e concertos (7,76%), dado o barateamento dos ingressos que ocorreu pontualmente em fevereiro, com a Semana do Cinema.

Em transportes (0,46%), o resultado foi influenciado pelo aumento da passagem aérea (6,91%) e dos combustíveis (0,46%), que desaceleraram em relação ao mês de fevereiro (2,89%). A gasolina variou 0,51% ante os 2,78% do mês anterior, o óleo diesel 0,33% ante 4,35% e o etanol 0,16% ante 3,62%. Apenas o gás veicular acelerou de -0,52% em fevereiro para 0,23% em março.

Já ônibus urbano barateou (-1,09%), com as reduções de 2,15% em Curitiba em razão da tarifa promocional de metade do valor aos domingos e feriados e de Brasília (-24,18%), dada a decretação de tarifa zero aos domingos e feriados, a partir de 1º de março, válida também para o metrô (-1,68%).

O táxi (0,23%), por sua vez, encareceu em razão de reajustes de 14,88% em Aracaju (9,46%) e de 10,91% em Porto Alegre (0,32%).

O grupo habitação, que havia registrado alta de 4,44% em fevereiro, variou 0,24% em março. A energia elétrica residencial, subitem de maior peso no grupo, desacelerou dos 16,80% do mês anterior para 0,12% em março.

Para Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IBGE, a resiliência do mercado de trabalho é uma das explicações para o aumento dos preços.

A taxa de desemprego está em 6,8% no trimestre até fevereiro. No intervalo até novembro, que serve de base de comparação, o indicador estava em 6,1%, o menor patamar de toda a série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que começou em 2012.

“A massa salarial estando maior acaba trazendo um impulso para o consumo”, diz Gonçalves.

Em fevereiro, a inflação oficial do Brasil subiu 1,31% em fevereiro, após marcar 0,16% em janeiro, a maior para meses de fevereiro desde 2003 (1,57%), ou seja, em 22 anos.

O salto entre janeiro e fevereiro foi puxado pela conta de luz, que teve um desconto pontual do bônus de Itaipu no início do ano.

Com o bônus, a taxa de 0,16% foi a menor para o primeiro mês do ano desde o início do Plano Real, em 1994. Em fevereiro, porém, houve uma reversão, que já era aguardada por analistas.

A energia elétrica residencial teve alta de 16,8% no mês passado, após queda de 14,21% em janeiro. Assim, a conta de luz exerceu a maior pressão individual no IPCA (0,56 ponto percentual).

Apesar da desaceleração em março, a inflação segue acima da meta perseguida pelo Banco Central, de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou, menos.

Para barrar a alta de preços, a autoridade monetária vem elevando a Selic desde setembro do ano passado. A expectativa de economistas é que o ciclo de alta se estenda pelos próximos meses, levando a taxa básica de juros dos atuais 14,25% para 15% em dezembro.

Para o IPCA, o Focus aponta uma alta de 5,65% no acumulado de 2025, e de 4,50% em 2026.

Segundo André Valério, economista sênior do banco Inter, o resultado não deve alterar a condução da política monetária e prevê mais uma alta de 0,5 ponto percentual, com a Selic encerrando o atual ciclo de alta a 14,75%.

“O resultado de março mantém o tom das últimas leituras da inflação. Por um lado, continua-se a observar fortes pressões vindas da inflação de alimentos, enquanto a inflação do núcleo e de serviços mantém-se relativamente pressionadas, mas sem indicar fortes tendências de piora”, diz Valério.

Ele calcula que o núcleo da inflação —medida que exclui itens mais voláteis como alimentos e combustíveis— saiu de 0,6% em fevereiro para 0,51% em março, e que a inflação de serviços foi de 0,82% para 0,63%.

“E esse recuo teria sido maior se não fosse a alta de 7% das passagens aéreas, o que mostra que a piora do indicador em fevereiro foi amplamente influenciada pela sazonalidade das matrículas escolares”, afirma o economista.

A inflação de serviços subjacentes e dos serviços intensivos em trabalho recuaram marginalmente, alcançando 0,65% e 0,58%, respectivamente, o quem segundo Valério, sugere algum repasse da força do mercado de trabalho.

Já o índice de difusão, indicador que mede o tamanho do processo inflacionário, voltou a acelerar, alcançando 65%.

“Hoje, o grande risco para o cenário da política monetária é mais o cenário externo, dada a elevada incerteza devido às tarifas do governo americano, do que a inflação doméstica”, afirma Valério.

Para Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, os dados desta sexta não alteram a previsão de IPCA ao fim do ano.

“Hoje, o que temos mais avaliado no nosso balanço de riscos é o movimento das commodities, decorrente da guerra comercial que se estende desde a semana passada”, afirma Barbosa.

Para ele, a queda do petróleo e a alta do dólar podem interferir na inflação brasileira. “É um cenário de bastante incerteza”, diz o economista.

De acordo com Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset, as altas da alimentação fora de casa, transporte por aplicativo, conserto de automóvel e hospedagem surpreenderam.

“Para a política monetária o quadro desafiador se agravou […] As métricas de serviços, lembrando que o BC disse estar particularmente atento a estas, mostram dinâmica preocupante”, afirma Sichel.

Com informações de: Folha de São Paulo

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